Em 1901,
Russell tomou conhecimento do trabalho desenvolvido por Frege em "Grundgesetze der Arithmetik". Mas
apenas em 1902 teve oportunidade de o analisar detalhadamente e de "fazer um estudo
mais rigoroso", como refere na carta que mais tarde enviou a Gottlob Frege.
Nesta obra, Frege tentava reduzir a aritmética à lógica e Russell, ao analisa-la,
descobre uma contradição no sistema proposto. Como escreve: "Há
apenas um ponto onde encontrei uma dificuldade. O colega diz que uma função também pode
actuar como elemento indeterminado. Eu acreditava nisto, mas agora esta perspectiva
parece-me duvidosa pela seguinte contradição. Seja w o predicado: para ser predicado,
não pode ser predicado de si próprio. Pode w ser predicado de si próprio?" (Carta
enviada por Russell a Frege, 16 de Junho de 1902)
Utilizando a
linguagem matemática actual, o paradoxo toma a seguinte forma:
Se quiser conhcer a versão popular do paradoxo, clique aqui. Após ter
descoberto o paradoxo, Russell decide comunicar a Frege o sucedido através de uma carta. ``Um
cientista dificilmente se pode deparar com algo tão indesejável como o de ver os
fundamentos ruírem exactamente quando o seu trabalho está terminado. Fui colocado nesta
posição por uma carta do Sr. Bertrand Russell, quando o trabalho já estava quase todo
impresso.'' Em resultado
do paradoxo, Frege viu-se obrigado a abandonar muitas dos seus pontos de vista. Russell,
que entretanto publica "The
Principles of Mathematics" (1903), acrescenta também ao seu livro um
apêndice onde explica em detalhe o paradoxo. Segundo
Russell, o paradoxo surge por haver uma violação do princípio do círculo vicioso. Em colaboração com Alfred North
Whitehead, Russell reformula e recupera o programa logicista de Frege baseando-se para
isso no bloqueio dos círculos viciosos através da doutrina dos tipos lógicos. Resulta daí a
denominada teoria dos tipos que se revelou uma forma problemática de desenvolver
a teoria dos conjuntos. Modernamente, evita-se o paradoxo porque nos abstemos de
considerar que a propriedade «x Î x» define um conjunto. Dito de outro modo, a colecção de
Russell não é um conjunto, é uma classe.
O paradoxo surge quando tentamos saber se o desventurado barbeiro faz a barba a si próprio ou não. Se fizer a barba a si próprio, não pode fazer a barba a si próprio, para não violar a condição 2; mas se não fizer a barba a si próprio, então tem de fazer a barba a si próprio, pois essa é a condição 1. Se quiser saber o que é um paradoxo clique aqui:
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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