Os Lugares da Escola

Velhos espaços institucionais, sobredeterminados por sucessivas camadas de significação, os lugares da escola oferecem-se enquanto indício, sinal,  convocando à desocultação e desvendamento dos seus segredos.

Fazer significar esses lugares na sua configuração arquitectónica, na sua distribuição interna,  interrogar o sentido das suas transmutações, procurar os isomorfismos entre estruturas materiais e ideias, entre  distribuições topológicas e representações mentais, entre determinações funcionais e regimes conceptuais. Desocultar a continuidade possível por entre a variedade das formas, uma verdade que lhes fosse transversal, um símbolo constitutivo da própria ideia de Escola. Reconhecer aí a constrição de uma determinação profunda.

Recordar que em todas as escolas, desde sempre, antes mesmo de lhes ter sido atribuída a necessidade de uma edificação - lugar de recolhimento, película face ao bulício da cidade,  lugar de encontro entre sujeitos diferentemente situados face ao saber mas por ele igualmente fascinados -  havia já recreio, pátio, jardim, lugar aberto, curioso, interrogativo

Acompanhar o firme e antiquíssimo caminhar da figura humana da escola na enigmática e perseverante continuidade dos lugares que sempre habitou.

Que lugares ?

De início, ao ar livre, sob a protecção de uma árvore ...


Mas também hoje, no ano da graça de 2003, a escola pode estar ainda sob a protecção de uma árvore

Depois, lentamente, tudo foi sendo inventado

a sala de aula

 

 

 

 

 

o pátio

 

 

 

 

 

o ginásio

 

 

 

 

 

 

 

a biblioteca escolar

 

 

 

 

 

 

 

 

o museu, a vitrine de conchas e pássaros

 

 

 

 

 

Inclusivamente, foram inventados diversos tipos de escolas

a universidade

 

o colégio

 

a escola primária

o liceu 

a escola técnica

 

a escola infantil

 

a escola secundária

a escola básica


Que figuras habitam esses espaços?

O professor , certamente! 

e,  face a face, 
     em simultãneo,
     criado num mesmo gesto, 

O aluno, o estudante, o aprendiz

Como explicar a sua quietude? Como não sorrir da sua irreverência?

Alunos que são forçados a abandonar o espaço protegido da casa familiar e que, nos lugares da escola, se arriscam ao grupo, à classe, à turma

à sua rigidez, à sua formalidade à sua turbulência



 

Que posturas, que gestos, que actividades têm  a sua configuração originária nos lugares da escola?

posturas que definem personagens, quase sempre cândidas, grandiosas ou ridículas

gestos terríveis, violentos, devastadores ou simplesmente inofensivos

actividades que identificam tarefas milenares 

E, que objectos preenchem esses lugares?

inúmeros artefactos destinados ao cuidado da escuta, da escrita, da leitura, inesperados dispositivos de ensino, de aprendizagem, de disciplina


Qual o futuro do espaço escolar?

Em que sentido se fará a restruturação do lugar da escola? 

Quais os cenários previsiveis a medio praso?

 

Será que, com os meios técnicos actualmente disponíveis, a escola vai voltar a não ter paredes? A existir de novo ao ar livre?

O que é já hoje a escola electrónica?

Como será a escola do futuro? 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt