A Paideia Isocrática

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Partindo da análise da política ateniense e das dificuldades de funcionamento da democracia ateniense, Isócrates aponta para uma reforma moral da cidade e do cidadão com base em quatro virtudes cardiais: prudência, força, temperança e, acima de todas, a justiça que se alcança mais facilmente pela educação e pelo exercíco de costumes sãos do que pela multiplicidade de leis repressivas.

 

uma educação do Homem pela linguagem como palavra repleta de sentido, referida aos assuntos que são fundamentais para a vida e a comunidade humana a que os gregos chamam de «os assuntos da Pólis». 

 

É esta preocupação pragmática que distingue Isócrates de Platão e da Academia em geral. Isócrates sabe que se dirige a uma multidão de homens sobre os quais a contemplação do bem supremo e ideal tem pouco impacto. Segundo Isócrates, o que importa é perseguir o bem possível num mundo real, isto é, mais vale um saber modesto, mas útil, do que uma actividade intelectual virada para a procura do absoluto, na qual se investe sem sucesso.

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Grécia Antiga

A crítica de Isócrates dirige-se também aos Sofistas, nomeadamente à tese da possibilidade do ensino da virtude defendida por aqueles. Como Isócrates defende em Contra os Sofistas, o que importa  é confiar nos poderes persuasivos da retórica e fazer apelo às boas disposições naturais e ao exercício da virtude.

E que ninguém pense que eu digo que a justiça é uma coisa impossível de ser ensinada pois, geralmente, creio que não existe ciência alguma que inspira a prudência e a justiça àqueles que tenham nascido não dispostos para a virtude. Mas não deixo de pensar que o estudo dos discursos políticos anima e exercita muitíssimo.

De facto, Isócrates usa as suas próprias obras para porpôr modelos de discurso que, manifestando o valor da justiça, da prudência e das outras virtudes, se oferecem, não como momentos de "ensino" mas como oportunidades de "exercício" da virtude, tanto a nível da conduta individual como da equidade das relações sociais.  

Segundo Isócrates são três os factores que estão na base de toda a educação: o dom, a prática e o estudo.

O primeiro requisito é que o aluno tenha predisposição natural. Predisposição que deverá ser primeiro incrementada na esfera familiar e depois em estreita relação com o mestre. Em ambos os casos, deve este ensino possuir um carácter prático, ou seja, ter por base exemplos (paradeigma) que possam ser objecto de imitação (mimésis). A relação mestre-aluno é, antes de tudo, a conjugação desses dois elementos. 

É sobre as qualidades naturais do aluno que se vai desenrolar a tarefa educativa do professor. O aluno deve exercitar na prática procedimentos e render-se ao seu uso e o professor deve ser o mais capaz possível de expôr estes procedimentos.

Por último, o estudo tem por objectivo reforçar um primeiro saber adquirido pela experiência ou tornar a experiência adquirida mais eficaz.

 

Não é ela uma coisa mais bonita por natureza se for obtida pelo trabalho, seja ela vergonhosa ou nociva?

 

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Muito se tem discutido sobre os ciclos e o conteúdo da Paideia Isocrática. Digamos que Isócrates concorda com o essencial do programa de estudos do seu tempo. À ginástica do corpo e da alma (obtida pelo estudo da música, dos poetas, da gramática e da retórica) devem juntar-se, na juventude, a aprendizagem dos conhecimentos adquiridos pelos antepassados na Geometria, na Astronomia e na Filosofia.

Porém, o que faz a especificidade da Paideia Isocrática é o valor atribuído ao ensino da História enquando disciplina de ciência política e instrumento intelectual poderoso na educação do principe, isto é, a ciência dos eventos passados que permite compreender os eventos presentes e futuros. 

 

Conservar a lembrança do passado permite acarretar as melhores decisões para o futuro.

 

 

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Essencialmente, Isócrates foi um professor de retórica para o qual a palavra era:

 

a maior prova de uma boa inteligência, e uma palavra sincera, legítima e justa é imagem de uma alma boa e fiel.

 

Mas, ao lado do professor, há também o mestre, alguém que compreende a importância de uma educação baseada no amor. Como afirma no Discurso a Nícocles

 

O maior e o mais justo tesouro que se pode dar aos filhos é o afecto

 

 

A sua influência como educador e mestre foi decisiva na formação de Cícero, Quintilhano e Plutarco e, através destes, na definição do ideal educativo europeu a partir do Renascimento