3. Ensino no Liceu de Aristóteles

Todas as manhãs, Aristóteles passeava com os seus alunos ao longo do peripatos, e com eles discutia as questões filosóficas mais profundas. À tarde, expunha assuntos de menor dificuldade para uma audiência mais vasta. Os cursos da manhã, ditos esotéricos ou acroamáticos, destinavam-se a um grupo menor e mais restrito de discípulos, mais adiantados, e incidiam sobre temas mais abstractos - lógica, física e metafísica - que requeriam um estudo mais intensivo. À tarde, decorriam os cursos exotéricos ou populares, destinados ao público em geral sendo eram expostos temas de maior acessibilidade, como a retórica, a política ou a literatura.

"No curto espaço de duas décadas realiza-se (...) uma obra cientifica e filosófica verdadeiramente prodigiosa, de insuperável originalidade e vastidão. Todos os conhecimento aí se aprofundam e sistematizam. Aí se faz o inventário e a crítica dos filósofos coetâneos ou do passado; consagram-se tratados especiais à psicologia, à astronomia, à física, à biologia, à lógica, à estética, à política, à metafísica; coleccionam-se e comentam-se as constituições políticas de todas as cidades gregas; estudam-se os fundamentos das mais diversas formas do saber (...)"

Sant´Anna Dionísio, Pedagogia Culminante dos Gregos, 1962

O Liceu compreendia uma biblioteca, laboratórios, salas de conferências e talvez algumas residências. A sua vasta biblioteca era a mais completa biblioteca particular, depois da de Eurípedes ( Bonnard, 1972). O grande número de obras que a compunham terá levado à criação de princípios de classificação bibliotecária o que, por si só, constitui um valioso contributo para a cultura.

Aristóteles era pródigo na compra de manuscritos. Parecedo ter sido o primeiro a reconhecer a importância de organizar uma biblioteca como apoio a uma escola. Como beneficiava do apoio financeiro de Alexandre Magno, tal permitiu-lhe adquirir importantes colecções, em particular de botânica e de zoologia, alguns mapas e uma quantidade de objectos utilizados na ilustração das suas lições, principalmente de História Natural.

 

 

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Página da Ética a

Nicómaco de Aristóteles

 

A intenção de Aristóteles era agrupar os sábios e os alunos em volta de uma biblioteca e de importantes colecções cientificas, com o intuito de assim contribuir para o progresso da ciência. A sua biblioteca serviu de modelo para a mais rica e a mais célebre biblioteca da Antiguidade, a Biblioteca de Alexandria.

A necessidade de armazenar todo o material didáctico que Aristóteles foi juntando, assim como a sua crescente biblioteca, tornou em pouco tempo o espaço de que dispunha para a instalação e usos da escola demasiado exíguo. Este problema, difícil de superar pois Aristóteles não usufruía do direito à propriedade e não podia portanto comprar terras, só foi resolvido após a sua morte, pelo seu sucessor Teofrasto.

"Quando com a idade de cinquenta e três anos, Aristóteles criou o Liceu, tantos estudantes afluíram, que se fez mister organizar regras complicadas para manter a ordem."

D. Michalany, Universo e Humanidade

O Liceu atingiu uma posição invejável entre as instituições atenienses.  A sua fama atraia um grande número de alunos que chegou a rondar os dois mil. Com a chegada de muitos alunos ao Liceu, foi necessário estabelecer normas, algo complexas, para a manutenção da ordem. Parece que os próprios estudantes fixavam as regras e elegiam, de dez em dez dias, um colega para dirigir a escola. Uma vez por mês, realizava-se um simpósio com regras estruturadas pelo próprio Aristóteles.


Contudo, não havia uma rígida imposição da disciplina, até pelo contrário: sabe-se que no Liceu tinham lugar refeições em comum com o mestre, e que os discípulos aprendiam enquanto o acompanhavam deambulando pelos caminhos entre as árvores do Lyceum.

 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt