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Muitos séculos depois aconteceu ao Império Romano praticamente o mesmo que tinha acontecido ao Mundo Grego. O Império Romano foi destruído pelas invasões bárbaras, mas  foi com razão que, meditando sobre a obra de Arquimedes, o matemático e filósofo inglês Alfred Whitehead escreveu:

"Nenhum romano perdeu a vida pelo facto de estar absorvido na contemplação de uma figura geométrica."  (Masini, 1979:55)

        A morte de Arquimedes é narrada de diversas maneiras. Nos parágrafos seguintes vamos apresentar diferentes versões desta morte.

 

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A morte de Arquimedes

 

VERSÃO 1

"Os soldados foram desenfreados pilhar a cidade [...]. O exército apropriou-se das riquezas e dos escravos [...]. O tesouro real reverteu para o Estado romano. Acontece que Arquimedes estava sozinho em sua casa e reflectia numa figura de geometria, com o espírito e os olhos absorvidos [...]. Não se apercebera da tomada da cidade. Subitamente apareceu um soldado que lhe ordenou que o seguisse até Marcelo. Ele não quis sair sem resolver o seu problema [...]. O soldado, irritado, tirou a sua espada e matou-o [...]." (cit. in Serres (1989): 143).

 

VERSÃO 2

"Outros dizem que o romano, armado com uma espada, se apresentou com a intenção de o matar imediatamente, que Arquimedes ao vê-lo, lhe rogou, lhe suplicou que esperasse um instante, a fim de não deixar a sua investigação inacabada e insuficientemente aprofundada, e que o soldado, sem olhar ao seu pedido, o degolou." (cit. in Serres (1989):142).

 

VERSÃO 3

"Segundo uma terceira versão, Arquimedes levava a Marcelo. numa caixa, os seus instrumentos de cosmografia, quadrantes solares, esferas, esquadros, que permitiam representar aos olhos a grandeza do Sol. Foi encontrado por soldados; julgaram que ele transportava ouro e mataram-no." (cit. in Serres (1989):142).

 

VERSÃO 4 

"Tomadas também estas, na mesma manhã marchou Marcelo para os Hexápilos, dando-lhe parabéns todos os chefes que estavam às suas ordens; mas dele mesmo se diz que ao ver e registrar do alto a grandeza e beleza de semelhante cidade, derramou muitas lágrimas, compadecendo-se do que iria acontecer... ...os soldados que haviam pedido se lhes concedesse o direito ao saque... e que fosse incendiada e destruída. Em nada disso consentiu Marcelo e, só por força e com repugnância, condescendeu em que se aproveitassem dos bens e dos escravos... mandando expressamente que não se desse morte, nem se fizesse violência, nem se escravizasse nenhum dos siracusanos... Mas, o que principalmente afligiu a Marcelo foi o que ocorreu com Arquimedes: encontrava-se este, casualmente, entregue ao exame de certa figura matemática e, fixo nela seu espírito e sua vista, não percebeu a invasão dos romanos, nem a conquista da cidade. Apresentou-se-lhe repentinamente um soldado, dando-lhe ordem de que o acompanhasse à casa de Marcelo; ele, porém, não quis ir antes de resolver o problema e chegar até a demonstração; com o que, irritado, o soldado desembainhou a espada e matou-o... Marcelo o sentiu muito e ordenou ao soldado assassino que se retirasse de sua presença como abominável, e mandando buscar os parentes do sábio, tratou-os com o maior apreço e distinção".(cit in Serres (1989): 149).

 

        O cientista tinha então 75 anos. O assassínio de Arquimedes foium horrível crime contra a Humanidade e contra a inteligência. Ele representa o confronto entre a incompreensão face ao valor da ciência,  simbolicamente expressa pela ignorância assasina do soldado, e a uma concepção da vida, um mundo cultural, como era o dos gregos, em que a ciência é um valor supremo.

        Gesto que, infelizmente, será repetido diversas vezes ao longo da História da Humanidade. Por exemplo, quando o Califa Omar manda encendiar a biblioteca de Alexandria ou quando  a Gestapo queima, na praça pública, os livros de Munique. 

        Em todos os casos, assistimos a gestos bárbaros de destruição. Só que, felizmente, a destruição nunca é total. Fenix renasce sempre das cinzas. A civilização clássica foi destruída pelos bárbaros,  embora, depois, o espírito grego - através de Roma - se tenha difundido e impregnado toda a cultura ocidental.

        Chegou mesmo até nós.

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt