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          O triângulo isósceles OPQ é o ponto de 
          partida. No lado PQ estão de novo desenhados dois triângulos isósceles 
          A1 e B1. Continuando esta subdivisão, obtemos os triângulos C1, D1, E1, 
          F1, A2, B2, C2, etc...(conforme mostra a figura). Repare-se que, 
          repetindo “infinitas vezes” tal processo, vamos sempre voltar ao ponto 
          de partida, mas sempre reduzindo o tamanho da figura para metade. De  forma aritmética, 
          podemos dizer que, se QU tiver comprimento 1, 
          então os seguintes medem, respectivamente 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, 1/32... 
          Temos assim representado um número infinito de quadrados uns sob 
          outros, que se tornam cada vez mais pequenos. 
          
          
          Esta figura é, sem dúvida, interessante! Mas o que a torna realmente 
          fascinante é o seu preenchimento com lagartos. 
          
          O mesmo esquema está na base da gravura 
          
          Limite Quadrado 
          (1964) à cerca da qual, numa carta Escher observou:  
            
            
              |  | 
                
                  | 
                  
                  “...o professor 
                  
                  
                  Coxeter 
                  chamou-me a atenção para o método da redução de dentro para 
                  fora, o qual anos em vão, tinha procurado. Pois uma redução de 
                  fora para dentro (como em 
                  Cada vez mais Pequeno I) não traz 
                  nenhuma satisfação filosófica porque assim não resulta nenhuma 
                  composição logicamente acabada e perfeita...”. 
                  
                  
                  (cit. in Ernest, 1978, p.104-105) |  |  |  
            
            
              |  | .jpg) |  |  
              |  | Limite Quadrado 
              (1964) |  |  
            
          
          Gravuras com espiral   
           As xilogravuras, 
          
          Turbilhões 
          (1957), 
          Senda da 
          Vida I  (1958), 
          
          Senda da Vida 
          II (1958) e 
          Senda da Vida III 
          (1966), são  alguns exemplos deste grupo. 
          
          O diagrama que lhes está na base é tão somente uma série de espirais 
          logarítmicas. Engraçado é saber que Escher, porque não conhecia o 
          conceito de logaritmo, teve de algum modo de o construir por si 
          próprio. 
          No entanto, o objectivo destas obras não é só 
          a representação do infinitamente pequeno. Há algo mais por detrás 
          destas gravuras! 
          Nelas Escher procura estabelecer uma analogia 
          ao ritmo biológico (nascimento, crescimento e morte) como que expressando o crescimento do 
          próprio infinitamente pequeno, a seu pulsar vital até ao infinitamente 
          grande e, depois, o seu  
          regresso, de novo, ao infinitamente pequeno. 
          Vejamos com alguma atenção, por exemplo, 
          
          Senda da vida II.   
            
              |  |  |  
              | A construção de Senda da Vida II | Senda da Vida II (1958) |    
          Centremos o olhar no peixe grande, que está 
          em baixo à esquerda. Este, com a cauda branca e a cabeça cinzenta, é 
          contíguo à cauda de um segundo peixe, que por seu lado, é mais pequeno. 
          Assim, seguindo os peixes cada vez mais pequenos, caminha-se em 
          espiral (de cor vermelha)  até ao centro, onde os peixes são tão 
          pequenos que não são passíveis de serem distinguidos. Temos assim a 
          aproximação ao “infinitamente pequeno”. Mas, partindo do “infinitamente 
          pequeno”, crescem peixes brancos,  que, por meio de 
          uma espiral azul, se tornam cada vez maiores. Atingida a extremidade, a 
          espiral azul funde-se com a vermelha e, com isso, voltamos ao ponto de 
          partida. Neste ponto, os peixes mudam novamente de cor e reinicia-se o 
          ciclo. 
          A  analogia biológica está feita. Um 
          peixe branco nasce no centro, cresce até atingir o seu tamanho máximo 
          e, envelhecido, volta como peixe cinzento a “desaparecer no infinito” 
          de onde partiu.   
          
          Gravuras de Coxeter
           
                       
          Foi num livro de 
          
          
          H. S. M. Coxeter 
          que Escher descobriu um diagrama que lhe chamou à atenção por 
          representar e possibilitar novas aproximações ao infinito. 
          Uma série de obras como o tema 
          
          Limite 
          Circular foram feitas à luz da 
          referida ilustração. Destacamos 
          
          Limite Circular I 
          (1958) e 
          Limite 
          Circular III (1958).     
          Sobre 
          
          Limite 
          Circular I Escher 
          escreveu : 
             
            
              |  | 
                
                  | 
                  “Para além das três linhas rectas que passam pelo ponto 
                  central o esqueleto desta figura consiste em menos arcos de circunferência com um raio sempre 
                  mais curto, quanto mais se aproxima da periferia. Além disto 
                  todas se intersectam em ângulo recto...”.  
                  (cit. in Ernest, 
                  1978, p.108) |  |  |    
          Mas, segundo o autor, esta foi uma tentativa 
          não completamente sucedida,    
            
              |  | 
                
                  | 
                  “...sendo a primeira tentativa, 
                  mostra um sem número de defeitos. Não só a forma dos peixes 
                  desenvolvidos em abstracções rectilíneas (...), mas também o 
                  seu arranjo (...) deixa muito a desejar...” 
                   
                  (cit. in Ernest, 
                  1978, p.108) |  |  |    
          Melhor, 
          segundo Escher, é 
          
          Limite Circular III:
             
            
              |  | 
                
                  | 
                  “...na xilogravura a cores 
                  Limite Circular III, 
                  as deficiências do Limite 
                  Circular I estão aqui 
                  consideravelmente eliminadas. (...) Foram necessárias quatro 
                  cores, para que cada fileira se distinga claramente das 
                  outras. Como todas estas fileiras de peixes, vindas duma 
                  distância infinita, sobem verticalmente como foguetes, da 
                  periferia, e de novo para lá se dirigem, nem uma componente 
                  alcançará alguma vez o limite. Pois para além é o «nada 
                  absoluto». E no entanto este mundo redondo não pode existir 
                  sem vácuo à sua volta – não simplesmente porque um interior 
                  pressupõem um exterior, mas também porque é no «nada» que, 
                  ordenados com exactidão geométrica, estão os pontos imateriais 
                  médios dos arcos, com que o sistema é construído...” 
                  (cit. in Ernest, 
                  1978, p.109) |  |  |  
            
          
          Serpentes 
          Apesar de 
          
          Serpentes 
          (1969) pertencer a este grupo de gravuras, optámos por distingui-la 
          das restantes. E isto porque, para além de ser a última gravura de 
          Escher, o diagrama que está na base da sua construção, de certa 
          forma, foi por ele adaptado do inicial feito por 
          
          
          
          Coxeter.
             
            
              |  | 
               |  |  
              |  | Serpentes (1969) |  |    
          Sabendo que teria que se submeter  a 
          mais uma delicada operação, Escher aproveitou todas as oportunidades para 
          trabalhar naquela que viria a ser a sua última obra. 
          
          Nas gravuras anteriores, Escher empenhava-se no seu trabalho até ao extremo. 
          As aproximações ao 
          infinito eram feitas ao pormenor. Com a ajuda de uma lupa,  como em 
          
          Cada vez mais 
          pequeno I,  trabalhou pormenores 
          extremamente finos, abrindo na matriz 
          figuras com menos de meio milímetro (Ernest, 1978). 
          
          
          Contudo, neste último trabalho, é evidente algum desgaste. Não há a preocupação 
          de desenhar os anéis mais pequenos, de forma a construir uma 
          aproximação ao infinitamente pequeno com elevado grau de consistência. 
          
          Sobre esta gravura, 
          Escher confessa que procurou representar 
             
            
              |  | 
                
                  | 
                  
                  “...uma 
                  cota de malha com pequenos anéis na margens e também no centro 
                  dum circulo e entre eles grandes anéis. Através dos anéis 
                  enrolam-se serpentes...”  
                  
                  
                  (cit. in Ernest, 1978, p.111) |  |  |    |