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            Crítias                 

 

  A vida e as obras

      Crítias foi um homem de acção mais do que um teórico. Nascido por volta de 455 a.C., pertenceu a uma família nobre de tendências oligárquicas. Parece não se ter comprometido no governo dos Quatrocentos e a sua táctica parece ter sido, como a de certos jovens nobres, fazer o jogo da democracia seduzindo o povo e controlando o seu voto pelo prestígio do verbo.

      A vitória de Esparta sobre Atenas, em 404 a.C., consagrou a derrota da democracia. Nesse momento, Crítias regressou a Atenas, como a maioria dos oligarcas, para estabelecer um governo oligárquico, que não duraria senão alguns meses. Crítias salientou-se como um dos mais arrebatados oligarcas e foi o culpado de várias atrocidades. O horror que os massacres suscitaram impeliram a resistência dos democratas a organizar-se e a reforçar-se. No decorrer dos combates, Crítias é morto em 403 a.C., pouco antes do desmoronamento do regime oligárquico e do restabelecimento da democracia.

       Das obras de Crítias existem ainda vários fragmentos, de importância desigual, em prosa e em verso. Em verso, existe as "Elegias", uma "Constituição da Lacedemónia", três tragédias: "Tenes", "Radamanto", "Pirithoüs" e um drama satírico: "Sísifo". Em prosa, perderam-se os seus "Prólogos" de discursos políticos, a sua "Constituição dos Atenienses" e a "Constituição dos Tessálios", mas conservaram-se os fragmentos da "Constituição dos Lacedemónios". Crítias foi também o primeiro a escrever "Aforismos", assim como "Conversações" e um tratado perdido "Da Natureza do Amor ou das Virtudes".


  A antropologia

      A chave do pensamento da Crítias é paradoxal. E esta chave é precisamente a ideia de que os homens são bons mais pelo exercício que pela natureza. Pensa-se, geralmente, que um aristocrata só podia fazer depender a areté da natureza, do nascimento. Mas, pelo contrário, para Crítias os homens seriam iguais por natureza, diferindo apenas pela cultura. Portanto, o que distinguia para ele a aristocracia era a longa e difícil formação educativa que se lhe dava e que ela a si se dava.

      Crítias traçou uma linha de demarcação nítida entre o sentir e o conhecer. Pensamento e sensações opõem-se como a unidade à multiplicidade. Esta distinção não faz, no entanto anunciar, a posterior distinção entre a alma e o corpo. A teoria do carácter apareceu em Crítias como o elo de ligação entre a sua concepção do homem e a respectiva concepção política.


  O pensamento político

      Crítias exaltou o esforço da formação voluntária em detrimento da espontaneidade natural, opôs a fragilidade da lei ao carácter que, quando presente em alguém, é inabalável. O carácter (tropos) não podia, para Crítias, pertencer à multidão, porque é próprio de um indivíduo. O homem superior que estaria acima das leis e, portanto, não as receberia senão de si próprio. Crítias via a lei como algo necessário à sociedade, mas que é imposta pelo aristocrata.

      Crítias contesta a ideia da omnipotência da palavra. O seu feitiço encantatório nada pode contra um verdadeiro carácter, isto é, contra o querer esclarecido do homem nobre. Considerava a retórica boa apenas para o povo.
      A crítica da lei contínua na famosa passagem do "Sísifo", onde Crítias analisa a astúcia da religião que inventa deuses para conseguir de cada homem a sua auto-repressão. Crítias descobriu que a lei é mais forte que a natureza e que pode até domá-la.

      Os textos de Crítias são muitas vezes citados para ilustrar as manifestações de ateísmo na Antiguidade, uma vez que traduz um cepticismo completo quanto à existência real dos deuses. Contudo, não se pode dizer que condene a religião, pelo contrário, reconhece a necessidade social da crença nos deuses e os seus efeitos benéficos.

      O pensamento de Crítias acaba por nos aparecer menos embebido de contradições do que se faz crer. O preconceito aristocrático do seu pensamento vai a par do compromisso pró-oligárquico da sua vida. Crítias parece também professar uma visão antilógica do real. Pensamento da contradição, sem dúvida, mas de uma contradição estabilizada no mesmo sentido pela vitória de um dos contrários.
 

Para saber mais sobre Crítias: http://www.infoplease.com/ce6/people/A0814056.html

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt