Alguns Sofistas   

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            Lícofon                 

 

  A vida e as obras

      Da vida e das obras de Lícofon pouco se sabe. Sabe-se que foi um pensador imponente e discípulo de Górgias.
Restam-nos apenas seis curtos fragmentos ou testemunhos que nos permitem fazer uma ideia de dois aspectos do seu pensamento: a sua teoria do conhecimento e a sua teoria política.


  O conhecimento

      A estrutura do falar filosófico articula-se de acordo com os pressupostos da metafísica clássica e o ponto essencial deste pacto encontra-se no verbo ser, na junção do lógico (como teoria da linguagem) e do ontológico (como teoria do Ser). Lícofon, consciente das dificuldades da lógica ontológica, procurou ultrapassá-las suprimindo a ontologia. Para tal, Lícofon suprimiu o verbo ser.

      Supõe-se que Lícofon recusava a metafísica, uma vez que recusava a distinção: entre a substância e o acidente e entre o ontológico e o lógico. Usava com grande frequência expressões compostas com o objectivo de elaborar uma retórica em que a proposição predicativa se deslocasse. Como consequência, o adjectivo já não está adjacente, a realidade surge tal como a experimentamos.

      A rejeição do discurso lógico não implica, para Lícofon, a impossibilidade do conhecimento, mas é a favor de uma concepção intuitiva do saber. Lícofon dizia, inclusivamente, que a ciência é a comunhão (sunousia) entre o saber e a alma.


  A política

      Lícofon participou no grande debate sobre a relação entre nomos-physis, entre a lei e a natureza. Ponha em questão o carácter restrito da polis e tirava à lei todo o carácter sagrado, todo o valor ético. Via a lei como uma criação do homem que obtém a sua legitimidade da utilidade que tem para os homens. Não encontrava na lei qualquer fundamento na natureza.

      Lícofon pensava que a comunidade política era semelhante a uma aliança. Tal como os estados fazem alianças para se ajudarem, também cada cidadão faz aliança com todos em vista a uma ajuda mútua. Esta é uma concepção pragmática da realidade que pressupõem a afirmação do individualismo.

      Segundo Lícofon, a natureza cria indivíduos todos iguais, logo a nobreza não é mais que um efeito da sociedade e, tal como esta, uma convenção. A posição política de Lícofon é clara. Ele era um adepto da democracia, pelo menos um adversário dos oligarcas. Neste sentido, integra-se perfeitamente na corrente sofística tal como nos aparece.
 

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Olga Pombo opombo@fc.ul.pt