Protágoras |
Górgias | Hípias |
Pródico | Antífon
| Crítias | Lícofon
| Trasímaco
A
vida e as obras
Hípias nasceu em Élis, cidade próxima de
Olímpia, numa data certamente posterior a 433 a.C.. O ano de 343 a.C. terá sido o da sua morte, relacionada com a guerra que os exilados democratas elisinos fizeram aos oligarcas que detinham o poder de Elis. Iniciou-se nos ofícios manuais, nomeadamente com trabalhos de tecelão e de sapateiro.
Hípias tinha uma actividade dupla de homem político e de mestre. O seu talento oratório e a sua destreza levaram-no a ser escolhido como embaixador da sua cidade natal. Percorreu toda a Grécia e suas colónias e visitou os ditos povos bárbaros, cuja língua parece ter aprendido.
Foi casado com uma mulher chamada Platané e teve três filhos.
Pouca coisa restou dos numerosos escritos de Hípias. Contudo, as suas obras podem dividir-se em três categorias:
os discursos de circunstância, as obras eruditas, e as obras poéticas. Entre as
epideixeis, sabemos da existência do "Diálogo Troiano". Entre as obras eruditas conhece-se os
"Nomes dos Povos", a "Lista dos Vencedores nos Jogos Olímpicos" e a
"Colecção". Finalmente, entre outros escritos poéticos encontra-se as
"Elegias". Existem outras obras que lhe são atribuídas, entre as quais o
"Anónimo de Jâmblico", que já faz parte da colecção dos textos sofísticos.
Natureza e totalidade
Os sofistas em geral apoiaram-se muitas vezes nos antigos fisiólogos, nomeadamente
Hípias, exaltando a natureza face ao nomos.
Hípias concebia a natureza como uma totalidade, considerando-a composta de coisas distintas, mas exigindo uma atenção especial à continuidade que as une. Portanto, a totalidade natural não é uma totalidade monolítica, pelo contrário, o universo é composto por seres múltiplos particularizados e qualificados a que chama coisas. Estas coisas existem independentemente do conhecimento que o homem delas adquire e da expressão linguística que lhes dá. A afirmação da continuidade natural parecem explicar as investigações matemáticas de Hípias quanto à rectificação do círculo, isto é, da invenção da
quadratiz. A realidade será contínua se não há vazio no universo. Para isso, o universo, que é esférico, deve conter em si volumes com arestas rectilíneas, enchendo estas totalmente a esfera. Isto implica a possibilidade de passar de um volume cúbico a um volume esférico, problema que se reduz, em geometria plana, ao da quadratura do círculo.
A intuição do grande todo que vibra em uníssono explica também a rejeição, por
Hípias, de toda a forma de separatismo e, principalmente, da cisão entre o ser concreto e a essência.
Finalmente, a intuição da continuidade dos seres exprimida pela adopção do grande princípio de
Empedocles
(homoiosis). A semelhança une os seres e sutura o universo. O conhecimento, intelectual ou sensível, é um encontro, porque só o universo contínuo se pode dar a conhecer. Portanto, o verdadeiro saber será à imagem e semelhança do cosmos, um todo.
O sofista anuncia, em todos estes aspectos,
Leibniz. Enquanto filómato e
pluri-especialista, seria o intelectual ideal para a ciência moderna na busca de
interdisciplinaridade.
O conhecimento, para Hípias, decalca-se
adequadamente pela estrutura da realidade. E deste modo, Hípias restaura um realismo ontológico e um optimismo epistemológico que, sem razão, se recusa muitas vezes à sofística. A racionalidade reencontra em Hípias um fundamento.
Natureza e lei
A antropologia de Hípias está no prolongamento directo da sua teoria da natureza. Estabelece uma oposição entre a natureza
(physis) e a lei (nomos), em benefício da primeira, sendo a lei positiva duramente posta em causa.
O facto de Hípias ter constatado que o nomos é incapaz de instaurar uma verdadeira justiça é, antes de mais, a expressão da violenta crise que abalou a sociedade grega no fim do século V a.C. e princípios do IV a.C..
Também Hípias via a lei como um disfarce para o poder. Aliás, sabemos que ele foi um dos criadores da etnologia e, como embaixador e professor
itinerante, contactou com múltiplas legislações positivas e verificou os desacordos e as contradições. Ninguém melhor do que ele poderia ter a sensação da relatividade daquilo que as diferentes culturas chamam "justo" e " bom".
É por isso que Hípias destrona o nomos e chama à lei "o tirano dos homens". Para Hípias a lei tiraniza a natureza. Para ele a natureza desempenha o papel de uma norma moral universal, que ultrapassa o particularismo do
nomos. Hípias serve-se disto para explicar a existência de uma benevolência espontânea do homem pelo seu semelhante. A natureza cria uma socialidade que precisamente a sociedade
destrói. Só a natureza humana que pode fundar uma sociedade boa. A justiça é vista por ele como obra do direito natural. A invocação da natureza pretende ter como resultado a exigência da igualdade.
Pode-se dizer que Hípias foi favorável à democracia e quer-se reformador desta, se o cosmopolitismo é movido por esta ideia que o grupo humano deve integrar e não excluir. Com efeito, protestou contra o seu sistema de acesso às magistraturas, que podia dar, temporariamente, o poder a incompetentes. O intelectualismo de Hípias inclina-se a favor da democracia esclarecida. Enquanto homem universal aberto a todas as técnicas, Hípias prova que a posse de ofícios particulares não prejudica necessariamente os conhecimentos intelectuais gerais.
Para concluir, vemos que Hípias não era de modo algum o faz-tudo superficial que, por vezes, se julgou ver nele. Possuidor de um espírito aberto e sistemático, construiu uma doutrina de que infelizmente só podemos entrever, através de escassos fragmentos que nos foram legados, as amplas perspectivas e a
originalidade.
Para saber mais sobre Hípias:
http://turnbull.dcs.st-and.ac.uk/~history/Mathematicians/Hippias.html
|